segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Recordações de infância


Nasci em 1971.
Era o mundo tão diferente. Tinha uma televisão pequenita para toda a família, a preto e branco e só tinhamos 2 canais. O transmissor da Foia desligava-se à meia-noite e muitas vezes ficávamos sem saber o resultado do festival da eurovisão, para nosso grande desgosto pois era sempre um acontecimento importante. Também o era a hora dos desenhos animados do Vasco Granja, pelo qual esperava religiosamente na expectativa de ver o Calimero ou o Speedy Gonzalez, às vezes saiam-me na rifa aqueles desenhos que vinham da Europa de Leste e que não eram fôfos nem engraçados, muitos feitos com técnicas diferentes como plasticina. :(
Para brincar tinha os meus carrinhos de metal, ou um comboio com o qual aprendi a palavra "ferrugem" pois de tanto brincar e levar para a banheira acabou por se estragar. Tive uma boneca Tucha, morena com fato brilhante de bailarina, mas só uma, nada de grandes luxos, tinha um serviço de Chá de porcelana e era grande fã dos Legos. Mais tarde também me iniciei na Playmobil. Tinha livrinhos da Anita e acreditem ou não, alguém me deu um livro do Noddy, era em Inglês e só muitos anos depois voltei a ouvir falar do dito, agora personagem famoso. Tive livrinhos do ursinho Paddington que eu adorava. Adorava o Snoopy e ainda hoje o adoro. Via a rua Sesamo, com o Egas e o Becas, os marretas!!!
Tinha rituais que partilhava com os meus vizinhos, como trocar livros da Disney que eu descia para as varandas deles por um meio muito sofisticado. Usava um cestinho atado por um cordel.
Ia para a praia do Vau no Verão com os meus avós e era tudo tão diferente de hoje, havia praia para todos, não havia falta de espaço. Eu tinha um lindo calçãozinho da Heidy e uma toalha do pato Donald.
Os Natais eram mágicos, a tv passava filmes bonitos da Disney, vinha a família toda e comiamos coisas que só mesmo no Natal havia paciência para fazer. As fatias douradas, os rissois da minha avó, matavam um pobre perú que era engordado só para esse fim e depois do jantar... esperávamos pela meia-noite para abrirmos os presentes.
Como vivia em Portimão, não havia muita coisa. Comprar brinquedos, só em lojas especiais, nada de centros comerciais ou hipermercados repletos de briquedos. Iamos a Espanha. Iamos até Vila Real de Santo António e depois apanhávamos o barco para Ayamonte. Compravam-se toalhas, cortinados, acolchoados e gel de banho Badedas. Isto quando a peseta valia menos que o escudo. Era sempre uma festa, os nuestros hermanos tinham mais coisas para a criançada. Anos mais tarde inverteu-se a rota e eram os espanhois que cá vinham às compras porque o escudo perdeu o valor.
Muitas vezes trocava de brinquedos com coleguinhas pois não havia fartura. Este fenómeno apareceu juntamente com os Jogos electronicos de bolso. Como eram diferentes iamos trocando para podermos jogar coisas diferentes.
Lembro-me que chegava da escola às 16:30, a minha avó ia buscar-me à camioneta, passavamos na merciaria e ela comprava-me uma bomboca, sempre de baunilha e rumavamos à Casa Inglesa para passarmos a tarde. Era lá que encontrava os meus amigos, foi lá que aprendi a andar de Skate e de bicicleta. Não sabia usar os travões da bicicleta então para parar embatia violentamente contra as barracas da feira do livro! O efeito era o mesmo, parava.
Ainda me lembro do meu primeiro relógio digital! Para minha grande tristeza não era aquele que eu queria, mas tinha os segundos e luz para ver à noite. Um luxo!
Música, ouvia as K7s do meu pai :) Não me posso lamentar, ele sempre teve bom gosto, ouvia Pink Floyd, Doors, música clássica. Por vezes ele levava-me ao cinema ao Domingo, vi o Bamby (coitadinho), a Branca de Neve, o Papuça e Dentuça, a Dama e o Vagabundo, ou seja, aquilo que havia para ver na altura. Vi também a Mary Poppins, que me lembro ter adorado!
Na televisão era uma festa quando dava um filme e geralmente eram filmes para a família, recordo com alegria os filmes do Jeery Lewys em especial o Cinderelo dos pés grandes (vá-se lá saber porquê).
As roupas que a minha mãe me vestia, que tristes, nada de moda infantil... eramos uns desgraçados com aqueles fatos de treino de mousse e as sapatilhas de velcro. :)
Mais tarde tive um spectrum e foi o inicio da era digital para mim. Eram horas a jogar ao Horácio vai esquiar, tardes perdidas com os colegas a jogar Chucky Egg e Maniac Miner. Fazia concursos de dança com as amigas e vibrávamos ao som de U2, Marillion, ZZ Top, Van Halen, Wham e sabe-se lá mais o quê que ouviamos em K7 gravada de algum programa de rádio ou em Vinil.
Descobri que gostava de ler e nas férias grandes passava noites em claro a ler ficção ciêntifica da coleção da Europa América, iniciei-me com Robert Heinlein, depois corri todos os livros da Agatha Christie em que entrava o Poirot. De dia era a praia, o dia todo, à noite o jardim da Casa Inglesa, onde estavam todos os meus amigos. Comiamos gelados das máquinas, os sabores não eram muitos, baunilha, chocolate, chantili e morango. Ainda hoje gosto desses gelados.
As nossas festas de anos. Tão diferentes das de hoje. Lembro-me da minha mãe começar a fazer bolos na noite antes, e a única coisa que vinha de fora era o bolo de aniversário. Era um bolo excelente e que aparecia em todas as festas só mudando as flores de rosa para azul, conforme o sexo do aniversariante.
Eramos felizes!!!

9 comentários:

Kella disse...

Gostei tanto do que escreveste! Também para mim a infancia foi assim!
Que tudo corra bem com a tua barriguinha, vai dando notícias. Tenho seguido atentamente este teu espacinho.
bjs
Kella
www.quelahenry.blog.pt

Ana disse...

=) revi-me em imensa coisa! =)

E agora, meus amiguinhos... =) =)

Miga, vais dar isso tudo à tua filhota. :-) Felicidade pura! =)

Tanita disse...

A minha infância não foi passada cá... Não tenho lembrança de muita coisa que escreveste porque nasci no Brasil e por lá fiquei até aos 12 anos, mas há muita coisa em comum!

Obrigada pela visita e volta sempre que eu também voltarei!

Vou dizer o que estou farta de ouvir sempre que me vêem.. Uma hora pequenina!

Beijinhos e tudo de bom!

Luciana Pessanha disse...

Que depoimento lindo, minha querida!
Boa hora!
Beijo grande

Eu ...Maria disse...

Até fiquei emocionada ... (devem ser das hormonas)

Os nossos meninos já não vão ter uma infancia ssim!!

Beijinhos

Cláudia Braz disse...

revi-me em muita coisa. e foi bom recordar!

Anónimo disse...

Que interessante, a tua retrospectiva.Os nossos tempos de infância são imemoráveis, de facto!
Beijinhos, Sofia, Pedro e Joana

Anónimo disse...

Boas recordações ;)

O grande dia aproxima-se!felicidades e tudo de bom :)

bjs

Anónimo disse...

Adorei este post e lembrei-me de coisas que já me tinha esquecido (sou de 77).
Faz o desafio que está no blog se quiseres/puderes :o)
Beijocas gds gds